Postagens

Mostrando postagens de julho, 2025

não convém

lembro de estar assistindo a algum caso criminal no investigação discovery, e então chegar àqueles momentos finais dos familiares dizerem o que pensam, o que sentiram com a fatalidade de não sei quem. daí a véia tinha perdido a filha, alguma coisa assim, que a casa dela tinha sido invadida e que, infelizmente, a garota morreu. nisso, disse que, antes da tragédia, via passar na tv os crimes, os assassinatos, e acabava por pensar de forma despretensiosa coisas mais ou menos nessa mesma linha: "isso não aconteceria comigo ou com qualquer um que eu conheça. essas desgraças acontecem com os outros." e, quase como se estivesse pagando com a língua, ela futuramente se juntou aos "outros", já que, obviamente, nunca esteve imune a acontecimentos deste calibre. pra mim ela é "os outros" — e é assustador. essa linha que vive despreocupada com as brutalidades alheias me faz ter despreocupação com brutalidades que poderiam, sim, acontecer comigo, com qualquer um que eu...

dissipamento

eu amo, mas não acredito no amor. tirei dois sisos do lado esquerdo, e agora tá ardendo essa merda. parece que tem aftas gigantes com corações pulsantes — e eu deveria dormir. são duas horas da madruga e o celular vai vibrar às 7 da manhã por causa do alarme. eu vou abrir os meus olhos e vai continuar ardendo. vou abrir os meus olhos e terei que encontrar algo no armário que seja mole o suficiente pra conseguir mastigar sem ferir o outro lado. vou ter que esperar às 9, tomar a minha amoxicilina, o ibuprofeno, fazer uma compressa gelada na bochecha pra ver se não fico parecendo um hamster com uma bolota guardada na boca. vou zanzar, zanzar pela casa. deitar numa cama; deitar em outra. encostar a minha cabeça na parede, no lençol, no chão. lavar alguns pratos, colheres, copos, talvez pensar na palavra "dissipar", se perguntar do porquê preciso escrever algo que tenha dissipamento. vou escrever, juro que vou. não agora, e quem sabe eu mude de ideia mais tarde. quem sabe me acont...

é pedir demais?

"Recordo o que já não está. Uma ilha habitada por homens que procuram beleza e só a encontram na vastidão do encerro. Reconheço meu sadismo. Digo que não existe possibilidade sem alma, como não há imagem sem o outro. Mas não tenho outro. Nem alma. Escreverei o sinal fatal sobre seu ventre e iremos embora rumo a uma terra úmida, me prometeu um jovem apaixonado. O que foi feito disso? Essa noite está a cem mil noites daqui, e o apaixonado está perdido. Continuo esperando que ele apareça entre as espirais que surgem da minha boca. Trago gravados odores como o de fogo-fátuo, o de mãos na penumbra, o de um ombro macio, o de uma garganta endiabrada. Terminou e todos foram embora. Continuo sendo uma pequena bruxa que espera enfeitiçar. O vizinho sucumbiu a uma overdose de heroína com seu bebê nos braços. A das janelas tapadas se asfixiou com a fumaça de seu próprio fogo. Os animais se extinguem antes de se reproduzirem. Isso é morrer por estas plagas. Por outro lado, nas minhas noites en...

bloodie

"Procuro alguém que possa me perturbar como faria um animal moribundo. E quando desejo sou uma vaca com a cabeça presa. E se desejo sou um cervo entrando no bosque como um noivo na igreja."

catalisador

tá, a taquicardia não tem só um som engraçado quando fala como também tem um som engraçado por dentro. um som inexistente com uma dor inominável. vai fazer uns 4 dias em que dou umas risadinhas e desemboco a chorar logo em seguida. vai fazer uns 2 dias em que, junto dessa desregulação emocional, acabou por me acontecer uma espécie de crise. um ataque de pânico, algo assim. meu corpinho já não quer mais ser catalisador de aflição alguma. e isso só piora tudo porque não tenho outro corpo para me transportar. não existe outra plataforma onde eu possa me instalar só porque o frescurento dos ossos, da carne, das tripas, olhos, coração, dentes, que seja, não suporta! não suporta o quê? acho que precisa separar as coisas. precisamos separar os nossos sentimentos das ações questionáveis de quem amamos, precisamos separar o racional dos sentimentos flamejantes que aparecem ocasionalmente em meio a rendição, em meio a pausa do sofrimento para um alívio muito desejado: a felicidade. me entup...

ataque cardíaco

por que a gente só não se mata logo? talvez, lá no fundo, o nosso instinto seja o que temos de mais precioso no fim das contas. o que ninguém pode tirar, mesmo que seja nojento, mesmo que seja o certo, mesmo que seja o escondido. sabe, tá todo mundo inventando um montão de merda sobre um montão de coisa pra fingir que entende algum caralho das emoções, das sequelas, dos estudos, dos móveis e tijolos. mas que porra... quem é que tão tentando enganar? burrice até perguntar isso, porque estão enganando o mundo, e eu, e eles, e você, e fulana, e ciclano acham que estamos enganando a nós mesmos, e, ah... é a prova de que "será tudo igual, exatamente igual". vou dizer pra que eu sirvo, ou como é que eu tenho que seguir antes de ir pro beleléu: nasço, descarto, morro, me descartam, me chamam, levanto, desmancho, engravido, luz, incondicional, e... bom, eu sou uma carne e preciso ser dourada para daí ser devorada, para o "devorar" ser semente. uma semente de carvalho. pequ...

shhh!!!

Imagem
violão, teclado, trampolim, computador, "aparelho telefone", janelas, armários, mesa, cadeira, mochila, roupas, fios, chão, paredes, teto, jeans, manta, mantra, boneca, microfone, microondas, pâncreas, quadro, monet, tênis, papel, tampa, cortinas, beterraba, paixão, rodas, tempo, broca, zíper, tamboril, geleia, unhas, corujas, santo agostinho, amarelo, confissões, dinheiro, gatinhos, valério, sansão, carrinho, marido, traição, som, tenda, renda, sol, disposição, tomada, desligamento, copo, suco, coceira, hematoma, ferida, sabonete, roxo, brilhante, luz, interruptor, chuveiro, passarinho, grilo, culhão, coragem, contagem, vertigem (?)

viadinho

estou de luto

8 de janeiro de 2025   não terminei o filme não terminei de morrer não tive a minha hemorragia cerebral  cranial  cabeçal  não terminei nem de ouvir a música  nem de terminar o pensamento  pensamento maldoso esse pensamento de volta pensamento de se constranger por querer voltar pensamento de nunca se sentir constrangida mesmo quando parece que sim pensamento  penso em tudo e te uso não penso em nada

é contradição atrás de contradição

eu não continuei  e vejo agora que o "estou sendo punida porque não fui dormir" se encaixa nesse exato momento também. é por isso que, mesmo insistindo, nunca dá certo. talvez seja sobre essa fraqueza normalizada, talvez seja sobre essa falta de responsibilidade; esse desejo de ter está falta, de não ser responsável, porque "Deus me livre ter que desenvolver maturidade pra lidar com coisas que requerem atenção, paciência, estabilidade e, ainda por cima, ter consciência das consequências que viram!" é uma linha tênue. eu sirvo para diversão, para limpeza, para trabalho, para seminários, para exterminar ratos, detonar comidas, assistir sonhos. eu preciso servir. é uma obrigação, não é minha responsabilidade, assim como também não é minha responsabilidade fazer com que você entenda qualquer coisa que eu diga. ou será que é? estou muito confusa sobre o que fazer, sobre o que deixar de fazer. eu dou a devida importância para aquilo que requer a minha pessoa, sério mesmo....

inexorável é o nome dela

quero fazer parte da sua demência. demência essa que irradia... e eu nunca tinha visto nesse formato de tragédia psicológica. num formato prejudicado pelo plano, pelas eternidades "vivas", e a grande vontade — que vem tarde demais — de se mostrar sempre mais, só pra dizer que servi antes de fazer bobagens. bobagens pra provar que não sou tão negativista. pra tentar me ver sem ser tão subordinada e submissa. fico sozinha, fico doente. estou acompanhada, estou doente. não tem termo, não tem acordo, não tem amor. e muito menos ódio, já que falta força até pra isso. falta garra, culhão. falta serotonina, falta afinidade. vivo nessa repetição, nessa vertigem. minha escrita só se repete, mesmo que diferente, mesmo que pareça que estou falando de outra coisa. talvez pareça que estou sofrendo só um tiquinho pra poder escrever e fingir que domino. é tudo no mesmo mal e papel e maluquices. é uma chatice, não posso negar. gostaria de não ter que perceber no meio de lágrimas,...

bobeira é não viver a realidade

tinha tanta raiva em mim quando escrevi, e é engraçado porque, inevitavelmente, ela desaparecerá por completo e assim uma outra surpresa tomará o teu posto. dá medo, eu não sei o que esperar, por isso me prendo aos sentimentos antigos, por isso a insistência. mas quando eu deixo, é ótimo. é ótimo sentir qualquer outra coisa que não seja o agora, e o "agora" já foi um desejo meu, lá no passado — MUITO ENGRAÇADO! fico repetindo demais, demais... e reclamo da repetição sendo que foi eu mesma que me coloquei ao reprisar. burrice. é uma pena que eu tenha que (me recuso a completar), já que eu nunca (ainda recusando). JAMAIS!!! nunquinha. é, a giovana sabia que a brincadeira por mais divertidinha que fosse, acabaria. e era melhor que tivesse acabado pelas minhas próprias mãos. então, eu via aquela cena e me distanciava da fantasia. acabou, tchau, vou pra casa. é engraçado como cansei dessa cor que parece roxo, mas é azul. eu realmente terei que encarar que nem humanos, porque eles ...

chocolate meio amargo

eu esperava sonhar com algo doce. o que recebi foi abrir os olhos às 5 da manhã e perceber que o sonho se baseava num jogo, numa escola, com conhecidos que eu não vejo há anos. isso faz algum sentido? faz. primeiro começou com um jogo, gincana, ou sei lá o que era pra ser aquela jossa. depois, se distorceu e virou uma espécie de julgamento. eu julgando a ação dela como se realmente tivesse acontecido e o meu subconsciente quer deixar claro diante daquela situação de que "NÃO CONCORDO!". eu não dou a mínima. rebobina os seus passos, me mostra a porta da sala, a menina que estudou comigo, e que, por sinal, eu tinha um ranço — e isso é errado. então vem me assombrar, vem realçar essa falta de motivos, porque ela é uma pessoa decente e eu a coloquei num cenário injusto. talvez seja inveja, quem sabe? obrigaram os alunos a limparem a escola, a só receber presença se fizessem isso. limpar e escrever seu nome no quadro. "giovana, quer vir comigo?", ela me convidou e eu...

ok, isso resume essa importância ao fútil e ao que deve morrer com toda certeza

não pensava em me jogar do sétimo andar, era só uma curiosidade. naquela época, parecia que as coisas eram piores, mas não pensava em me matar. agora, tá insuportável, eu não consigo pensar em outra coisa. o que veio, o que foi, aquela pessoa, aquela outra. um amargo lembrete de que não são pessoas, nem acontecimentos: são cacos, são as partes que faltam para conseguir cumprir as vontades de um corpo fraco e sem muita autonomia. para se defender de uma mente que diz ver esperanças, que imagina caminhos alternativos de algo sem solução, sem a revolta necessária, sem a natureza prometida, sem o amor. e o retardo cheio de paixão não é de agora, não é de ontem — foram nas pequenas brincadeiras, intrigas, presentes e desprezos que vieram pra abalar. eu só não precisava pensar naquilo ainda. "um dia virá e irá pra mim", e veio, vai vir. posso dizer o que abala meu âmago ou é cedo demais?

intransigência

outro texto que transcrevi, dessa vez do meu novo caderno/diário.  e cortei algumas partes já que disperso demais. olá, então... eu tentei fugir de mim mesma diversas vezes, e as formas em que tentei fazer isso eu não consigo nem ao menos listar porque não me lembro. engraçado, não? eu vivo no ontem, e o ontem vive no amanhã. como conciliar? como sequer escrever essa caralha de palavra? não estou brava, gosto do tom, dá ênfase, só isso. eu pretendia escrever todos os dias no bloco de notas do meu celular. penso agora: "que burrice...", já que tenho o risco de perder tudo. basta esquecer a senha, quebrar o telefone, perder a conta. ou o mais impossível: um dia, um dia qualquer, tenho uma vontade de acessar as minhas notas e... "AI, MEU DEUS, NÃOOO!!!" – tudo foi apagado. por quem? vai saber, né? tentei me reduzir, na verdade. não fugir de mim mesma (mesmo que eu tenha tentado algumas vezes, sim). me reduzir. assim, se no mundo sou um nada, se pros outros, piorou – ...

27 de abril de 2025

escrevi isso no meu falecido caderno (cabou-se as páginas vai fazer um mês) ah, e i sso aqui é uma puta declaração de amor, lol bom, de uma forma esquisita e quase automática, me senti na obrigação de escrever neste caderno. sabe, só porque a minha garganta doía de tanto ler em voz alta, tive que deitar na minha cama, puxar um pouco o cobertor até meu tronco – deixando uma perna pendurada para fora –, para que eu pudesse olhar, sem realmente estar olhando para o armário e pensar. pensar um pensamento que veio lá do meu coração, que se transformou em senha, em enigma, eu teria que descobrir, decifrar. estou me sentindo estranha, é uma sensação estranha, é uma situação estranha. de fato, nunca na minha vida. preciso de muitas coisas para que eu funcione de um jeito que sirva para mim, que seja benéfico, entende? entendo agora. um pouco de tudo, dois em um. mas a verdade é que estou cansada. gostaria de ser pura, de ser criança. odeio isso, do doce, sabendo que o amargo vem em mar...

síncope

v i a cara da mulher umas veizinhas só, e, mesmo assim, ela enrolou. enrolou mais do que eu, enrolou mais do que o processo, dos que os dentes da frente... e não é sobre isso. não mesmo. é sobre as pulsações. eu não tinha percebido o quão fortes poderiam se tornar a partir do momento em que notei o latejar. gostaria de ter ficado no natal. naquele natal. pensei essa mesma coisa em 2023. e pensei nisso, de novo, em 2025. teria sido melhor se não tivéssemos tentado nos prolongar tanto em todos aqueles discursos, em que, absolutamente ninguém, prestava atenção. teria sido melhor se eu não tivesse dado chance alguma. um sacrifício? sim, mas, em troca, ganharia muita LEVEZA na alma, no corpo, na realidade. queria eu poder enganar desse jeito. entretanto, não consigo nem ao menos colocar os meus pensamentos mais honestos aqui nesse bloco de notas, em que, ABSOLUTAMENTE NINGUÉM vê. ninguém vê, é verdade. é exatamente sobre isso, não? eu sei que você está aí, pulsando. eu sei d...

nó inocente

das milhares e milhares de vezes que foi preciso apenas retornar pra te encontrar. de novo. uma doença com hora marcada se desencadeava em mim. primeiro: começava com uma dor na têmpora; às vezes do lado direito, às vezes do lado esquerdo. depois, dor de ouvido, e ele ficava, também, num só lado. dependia. e aí se manisfestava em dores no corpo: febre, enxaqueca, refluxo, contorções, contusões no coração, suar frio, sensibilidade nos dentes, inchaços, tosses, vômitos, falta de ar, quase desmaios — e uma fome insaciável. a fome não tinha hora marcada. a fome mora em mim e nunca foi embora, nunca precisou voltar. o que parecia uma despedida, era, na verdade, um adormecimento. eu não sei se acontecia por causa da falta de algo externo, de um sentimento antigo. ou se era por causa do excesso. excesso de tanta aflição desgovernada. aflição que não foi mastigada direito e te engasga e não reverte nada. e eu engasgo, acho que pra sempre, como num fio tão fino, que basta um nózinho inocente, p...

ao relento

eu quero morrer. já senti isso antes, mas era passageiro, de uma forma esquisita. agora, me veio uma lucidez excruciante que não consigo aguentar. é desesperador. eu não posso mais. eu mesma me humilho conscientemente, eu mesma me provoco sofrimento conscientemente. eu mesma evito, machuco, engulo, assisto, defeco, vomito, dou risada, choro — totalmente consciente. estou aqui, e, ao mesmo tempo, não estou. não estou em nenhum lugar, em nada, em ninguém. eu sou solitária. estou completamente sozinha. eu não quero estar em nenhum espaço, porque o que supostamente é o meu ser, minha identidade, se ausenta de um jeito assustador. eu não posso aceitar, eu não posso incentivar tamanho masoquismo a fim de fingir acreditar que, apesar dos pesares, terá uma luz no fim do túnel. é simplesmente ridículo. o mundo externo amplifica a percepção da minha própria não-existência e da minha incapacidade de ser.

ganância, paciência, complacência

eu tava aqui, o dia inteiro coçando, e ainda tive a audácia de — enquanto eu mijava — ficar me lamentando por toda essa futilidade. comi doce e tentei me convencer que, no fim das contas, teria algo de bom pra assistir. desisti. fiquei me enrolando na coberta pra dar uma breve cochilada de 20 minutos, até alguém me importunar. de novo. e a cada hora que passava eu me distanciava ainda mais daquele sentimento que em alguns lindos momentos me iluminou — e agora parece só ter sobrado pensamentos importunos, TOTALMENTE involuntários. é... vai, quase totalmente. memórias que vivem me assombrando. em busca de um refresco, fui inventar de abrir a janela do meu quarto. ok. daí, minha irmãzinha fofinha pegou as minhas canetas, os meus marca-textos e o meu lindo bloquinho de notas com gatinhos, que foram colocados em cima de fundos das respectivas cores: rosa, azul e amarelo. tinha até um velcro pra abrir, uma gracinha.  ela jogou quase tudo que estava na caneca que fiz de porta-lápis pela j...