intransigência

outro texto que transcrevi, dessa vez do meu novo caderno/diário. 

e cortei algumas partes já que disperso demais.


olá, então... eu tentei fugir de mim mesma diversas vezes, e as formas em que tentei fazer isso eu não consigo nem ao menos listar porque não me lembro. engraçado, não? eu vivo no ontem, e o ontem vive no amanhã.


como conciliar? como sequer escrever essa caralha de palavra?
não estou brava, gosto do tom, dá ênfase, só isso. eu pretendia escrever todos os dias no bloco de notas do meu celular. penso agora: "que burrice...", já que tenho o risco de perder tudo. basta esquecer a senha, quebrar o telefone, perder a conta. ou o mais impossível: um dia, um dia qualquer, tenho uma vontade de acessar as minhas notas e... "AI, MEU DEUS, NÃOOO!!!" – tudo foi apagado. por quem? vai saber, né?


tentei me reduzir, na verdade. não fugir de mim mesma (mesmo que eu tenha tentado algumas vezes, sim). me reduzir. assim, se no mundo sou um nada, se pros outros, piorou – então a forma seria me ver e me fazer de inexistente por dentro também. não consegui. fiquei anos da minha vida na surdina, no vão.

eu preciso morrer. ou preciso matar ela. sabe, tadinha da criança que eu fui, da criança que eu sou. ela sofria na mesma medida em que eu sofro agora também. porque, bom... porra, somos a mesma pessoa, na mesma ferida, obviamente.

e essa ferida criou uma casquinha. só que ela não pode se curar. não mesmo, caralho!! então arranco com a unha. arranco com a unha a casquinha que ainda estava se formando para futuramente se juntar, se fundir à minha pele lesionada.

mas eu não quero essa praga maldita no meu sangue, nas minhas fibras. eu não quero me curar.

vou viver na ferida pra sempre se for preciso.

eu não peço por muito, não.

funcionaria assim:
a arte em ser e não parecer.
não é pra ser uma tortura, e sim uma brincadeira.

sou uma eterna criança.
e isso significaria buscar uma vida semelhante com a que eu tive.
seria um reflexo. eu a enxergo, e ela se enxerga em mim.

veja bem, sei que o sofrimento não vai acabar, não nessa vastidão, pelo menos. mas sei que posso me divertir às vezes, que posso sentir felicidade na rendição. mesmo ficando com toda a bagunça depois...


da escuridão do ventre me criei.
rastejada até a luz eu fui.

e agora não seria diferente.
na escuridão tento encontrar faíscas. não esperanças – faíscas, riscos. riscos de luz é para onde rastejo.

muitas coisas estão em andamento. claro, tenho 15 anos de idade.

e a minha alegria seria ir embora sem nem perceber – só que não.
a minha alegria seria fingir ir embora sem nem perceber.

a arte de: "posso parecer bobão, mas eu só me faço, viu? estou de olho em vocês."
merda, eu devia ter anotado a fala dele naquela hora.
acho que se eu fosse um homem, eu seria, em partes, parecida com ele. meu professor de biologia que estudou na usp, tem uma foto de perfil engraçada e tem o mesmo nome que o meu pai. sobrenome também.


e na infância é que vem o doce, é que vem as sentenças, os martírios.

meu cabelo é um lixo, é engraçado, porque não consigo controlá-lo.
minha vida é uma linha torta, feia e engraçada. me fascina porque não posso controlá-la.

meus pais são crianças sem paciência alguma. por isso que ter uma cria é tão difícil. é por isso que não se deve engravidar na adolescência, muito menos quando... enfim,

sou assim desde quando nasci. e só não digo que serei até a morte porque sou imortal. morro só em vida, mas a vida não morre, não. não mesmo.

pensando aqui...
pensando em ser babá de alguma peste desse condomínio de prédios. tá um tédio essas férias. além do tédio, tem o sofrer por causa da saudade, e tem o deleite do poder escrever. é onde me encontro, é onde me alimentam: meu cordão umbilical.

o parto são processos (e eu choro como um bebê que nasceu dormindo).

ou te cortam ou te rasga.

nos dois conseguimos ver camadas, por mais que o parto natural seja sobre expelir, e a cesariana seja sobre descamar para arrancar.

por mais que eu não seja um feto, tudo volta ao nascer, e não ao morrer. essa é a grande diferença entre você e eu.

eu nasço, ou parto – no sentido de partir, de ejetar a criança –, em cada camada, em cada expelir é que pulsa, é que se chega mais perto do nascimento.

é sobre cuidar de um bebê.
é sobre suas fases enquanto ainda aprende a caminhar, a falar, a ler, a comer, a sentir.

será que é onde se aprende ou será que é descartar o que se sabe?
o que nasceu sabendo.

sabe, eu tentei acreditar naquelas merdas de orações, de simpatias, de fé, de não sei o quê. do "nada é verdadeiro, tudo é permitido", que um tal mágico disse por aí – mas não acredito, sou totalmente cética; racional em relação à isso.

a única coisa em que acredito é no meu ser, já que ele se bate nas paredes do meu corpo, nos limites da minha mente, no sentir doído do meu coração. a minha verdade deve ser essa. deve ser, sim.

eu amo a verdade e quero me casar com ela.


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