Maximilian Sheldon nunca tinha se divertido

 todo mundo andando de avião, né...

tava eu aqui andando pela casa — que é quase a mesma coisa, tá bom? —, pensando no quanto até os meus sonhos, completos ilusórios do sono, conseguem ser mais interessante do que essa vidinha; que até mesmo um obituário seria mais fácil de lembrar do que desta merda.


pois todo mundo se importa tanto. se importa tanto com os outros, tanto consigo próprio. e eu sou tanto quanto o todo, sério mesmo. é que, sabe como é.... chega um ponto em que o Brasil não mostra tua cara, que você não enxerga a sua cidade — e, ALIÁS, tenho coisas a dizer sobre:

São Paulo não é muito discreto quando se trata de seus filhos. daí, Sorocaba é uma das crias, sem dúvidas. esse esgoto nunca que alguma fruta, alguma MANGA, poderia ajeitar. se bem que Campinas consegue ser pior, lugar feio da porra.


ah tá, acho que sei melhor agora onde chegar.


sei lá quanto tempo faz que não vejo algo bonito, que dê gosto de ver. assim, não só de ver, como também de escutar, de ler, tocar, sentir.

estou quase que numa exaustão sensorial, visual, fecal, bilional, matrimonial, mental, porque tudo ao redor consegue, em alguns fragmentos de segundos, apodrecer.



oquei, você era uma criança relativamente fofa lá no auge dos 2 pros 6, só que aí os seus pais começam a te dar as porcarias industrializadas que todo pirralho deveria ter o direito de ter, pra que assim foda com todo o resto do seu corpo internamente quanto externamente, sem contar do principal: a sua cara. 


na adolescência além de ter um montão de crises, terá que lidar com essa cara apodrecida de tanta merda que respira, come, onde dorme, o que faz, o que pretende fazer. é uma delícia isso, haha. só de pensar nos anos e na deterioração dessa fragilidade... a pele murchando aos poucos, com o bigode chinês, bolsas de sangue debaixo dos olhos, rugas, manchas, cabelos brancos, ralos. 

vou começar a dormir em qualquer canto que me apetecer também? será?!


como que as pessoas conseguem viver até os 80? não dá pra entender. por isso que os velhos são pura encheção de saco na maioria das vezes, tem que ser mesmo. tem que ser, faz total sentido. quem não aguentou o regue da vidoca lá trás, por certo, se auto-exterminou. e quem que não aguenta o regue da vidoca? é, sem querer generalizar, mas... os filhos da puta é que sobram aos montes nessa terra, só reparar. são eles que sobrevivem. ou talvez os niilistas.


eu não sou tão filha da puta nem niilista, daí complica.



nesse natal, passei uma parte subindo em árvores, tirando fotos, comendo picolés, lutando jiu-jitsu aquático com a minha prima numa piscina de plástico minúscula, enquanto a minha irmã mais nova boiava no canto dela. perdi dez vezes, venci duas. e olha que a garota tem 11/12 anos de idade.

pensando nisso, não sei se sou franga demais ou se sou protetora...


"não quero machuca-lá, então lhe deixo vencer de lavada quinhentas vezes pra que veja como sou uma prima merecedora de sua admiração!!!"


falou que pareço uma tiktoker, matherencio, algo assim. respondi com: "ela é bonita, porém, forçada". de primeira não tinha entendido porque que ela tinha citado, depois, me disse que eu lembrava a garota. "e você é o quê?", aí agora não sei se ela quis dizer que sou bonita ou se sou forçada.


tá, tá... papo furado. sou franga mesmo, e aí?

sou boazinha por causa disso também. no fundamental, das brigas que lembro de ter — sem querer querendo — me metido, eram pessoas no mesmo nível de força que eu, magrelas, ou pelo menos quase no mesmo nível. era só bate boca, "cala boca já morreu, quem manda na minha boca agora sou eu", começar a fazer cara de deboche, de nojo, revirar os GLOBOS OCULARES, botar o pé na frente quando a pessoa estiver passando, etc. sabe, essas coisinhas inocentes.


têm umas que me irritam até hoje só de lembrar. o impressionante era que elas sempre tinham o mesmo tipo de olho: olho de peixe-morto. aquelas olheiras escuras mesmo tendo 9 anos de idade, a cor de pele acinzentada que deixava mais à mostra, esqueléticas, voz estranha, que nem a minha, só que mais fina.

lembro que as pessoas se irritavam comigo só por eu ter olhado pra cara delas. tem alguma coisa no meu rosto, a minha expressão. eu fazia cara de bosta sem saber, e hoje faço cara de bosta sabendo 👈 uma habilidade minha aí.


hãã... o que caralhos isso tem a ver? não seiiii!! é só que a Giovana vai escrever e vai ler, e vai ser somente ela lendo pra todo resto de tempo que ainda estiver sobrando nessa madrugada.



não entendo os velhos, não entendo pessoas da minha idade, não entendo você, não entendo ciclana, beltrano. não entendo o que espero quando flutuo naquela água de cloro, mijo, e me sinto quase que bem. me sinto o eu que esteve lá desde não sei quando, e que só pude reparar quando desmoralizou esses moinhos de importância que eu e você pusemos nessas dimensões ínfimas, cheias de ilusãozinhas passageiras.


queria poder dizer com todas as palavras mais sofisticadas pra ver se me leva à sério, mas não tem jeito. ninguém leva à sério um pré-julgamento, uma passeada na calçada do lado de quem você temia aos montes, um pedaço de lanche que cai no chão.

ler a página número-tal-tal pra sala inteira, levar um socão no braço entre aquelas brincadeiras brutas e fingir que não doeu, segurar o choro porque levou um xingo da mamis, implorar pra sua irmã sair da frente da tv e brincar com você de barbie, ficar brava com a amiguxa do pré porque ela foi brincar na gangorra com outra, etc, etc.


sabe, essas coisinhas inocentes. e eu podia ficar pra sempre relembrando, sério mesmo. eu podia pra sempre me sentir quase que bem e pensar só negatividades, fazendo com que todo o lazer que me fizeram acreditar ser realmente relaxante, na verdade, ser apenas mais uma forma de arrancar os bolsos da galera. de fazer chorar pra que outros possam dançar. não é só a bandidagem que faz mal, é também o amor, a cumplicidade.


é sobre um dia você ser o cachorro que suplica por ração; num outro dia ser o dono que é importunado pois o dog, o cat, está com fominha, quer petiscos caros, mas tu é apenas um pobre lascado. é sobre baixar a bolinha, ceder, se interessar pelo todo, deixar de ir à Itália para ir à França comer feijão gelado. sobre parecer ser tudo e mais um pouco, e se mostrar o mais realista de pouco que pode ser naquele momento e BÃ. cabou-se.


cabou-se os sentimentos de medo, não há. morro de preocupação, mas não morro pela exposição do sol contra minha pele. da pele contra esse sol. sou apenas uma sujismunda navegando por ondas intermináveis de repetição. o alívio quando vem, serve para angustiar ainda mais:


"quando será que tudo isso acaba?"

"como será que aguentarei quando acabar?"

fazer preferir a fossa autêntica — conservada em imundícies legítimas — às tais porqueiras desgovernadas que chamam de "VIVÊNCIAS".


viver enquanto der nessa ferida.

ser pra sempre um de mim e um pouco de você. 

ser feia e linda, inteligente e estúpida, forte e fraca — sentir a invencibilidade no cérebro doído bater tão forte que nenhuma tentativa, quando fosse pairar, conseguisse de fato penetrar.


o penetrar é de carne, a paz é o meu buraco: virgem. o permanecer é de graça, o custo é o teu desperdício: trivial. tirar a despreocupação da vida enquanto vida, é o nosso lembrete: inexorável.

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