"vá dormir", por quê?
é tão bizarra essa sensação que me vem justo na hora em que devo dormir porque já estou bocejando — e são 2 da manhã... estava digitando e olhei de relance no horário, COOL. fiquei lembrando de certas pessoas e então o meu dedinho já coçou em procurar como é que andam os tais seres, só que não é uma boa ideia, melhor deixar a memória paralisada, não renová-la, sei disso. é difícil, vem e não tem o que fazer. mas, agora, se você procura, a culpa é sua por abrir a ferida de novo. deixe cicatrizar, deixe cicatrizar...
e é aí que tá: por que não deixar a ferida aberta pra sempre e, a cada dia que passa, ver ela ficar mais e mais infeccionada? qual seria o problema disso? meio que crer que há uma ferida no coração só por causa das suas emoções negativas, é retardice. crer que a feridinha vai se curar e que todos os acontecimentos ruins vão passar batido um dia é mais retardice ainda. a vida enquanto vida é uma feridona horrorosa, contagiosa, depravada, que pelo visto basta colocar um curativo pra sarar. entendi.
eu lembro de quando parei de ir ao pré, fiquei meses ou talvez um ano em casa. o verão é sempre o mais vivo na memória, é árduo o calor, ele infesta tudo e todos. então, me via pequena em uma tarde calorenta e laranja. a tv ligada, gêmea de um lado do sofá, eu no outro; minha mãe na poltrona, o couro preto molhado de suor, minhas dobras molhadas de suor, meu cabelo, meu pescoço. eu olhava aquela cena e reparava no molhado, e desejava que passasse logo, pois o calor é ruim, o calor coça. em outros dias eu brincava como de costume, e coçava tanto as dobras dos joelhos, coçei tanto que acabou machucando.
eu ficava sentada como uma boa mocinha lá, brincando, daí, quando a pele se encontrava com a pele, quando descolava, doía, doía, e eu não parava de coçar mesmo assim. machucados são ruins, gostaria que passassem. esses machucados foram doloridos... gostaria que voltassem. e quando tinha medo de tirar o band-aid, então pegava só a pontinha e arrancava num rápido movimento? um tiro na cabeça, pronto.
o que dizer desses sentimentos, né... os efeitos que tiveram em mim foram — embora fortes — ridículos. essa coisa de evitar o ridículo é o que me dá mais angústia. evitar o que exatamente? curar o quê? temer o quê? sentir saudades do quê? eu preciso que me diga, que me guie corretamente, porque estou cansada de fazer os trabalhos ficarem decentes, de ter que mandar o arquivo certo, de ter que ser a primeira a apresentar os exemplos, de ter que catar os pequenos caquinhos de vidro do chão para que os seus pés cascudos não sangrem pelo porcelanato. estou cansada.
me alastro, me alongo nas cobertas e lençóis em busca de conforto, só pra que eu não pense como a minha lombar dói, em como eventualmente mais tarde naquele mesmo dia, eu teria que lavar o sangue que suja por dentro, que suja as minhas roupas. foi tão engraçado, foi ótimo, e tudo está acabado por agora. hoje vai ser ótimo, vai ser maravilhoso, vou ter gosto de viver, vou sim. ainda sinto as raspas de vidro pinicarem a minha pele. ainda tenho raiva daquelas pessoas, e daquelas outras... será que eu poderia ser malvada? não fui. não fui malvada direito pelo menos, falta colhões.
gentileza e simpatia geram tantos nadas, bocudez e grosseriam geram tantos ódios que de repente se transformam em vários nadas também. viram saudade, viram qualquer realidade, qualquer ausência de sono. tipo, eu, agora, ou um pouco antes do agora, colocando lembretes e fervendo eles num bule. escrevendo só pra não ter que procurar, gastando essa energia só pra não dormir pensando que teria sido legal se eu tivesse tentando ao menos colocar o que invade nas palavras insuficientes.
são tão úteis e valiosos que me dói POR INTEIRO, COMO PODE ISSO? impulsivos e dramáticos, quebradores destemidos e pouco amados. eu os amooo... odiar é fácil. sou masoquista, tô indo do outro lado. vindo, percebo: não sei se é a solidão que magoa mais ou o não querer da solidão contigo que consegue marcar com mais força.
dito o delírio: não quero amar nem odiar. não quero rir nem chorar.
eu quero tanto, tanto...
torrente
ResponderExcluirEu sei o que me salva e sei o que me mata, o difícil é a dose, você fala no começo sobre procurar pessoas que você quer deixar no passado, e acho que isso fala um pouco sobre alto controle, o problema não é em ver a vida da pessoa, mas o que isso gera em você, e se você sabe ou não lidar com isso, eu me pergunto o tempo todo quantas coisas eu deixei de fazer porque isso não parecia certo ou não seria bom pra mim, mas acho que a gente tem que se expor a um pouco de perigo emocional as vezes, ( o bastante para aprender a lidar com nos mesmos, mas sem nos perdemos da nossa essencia) as vezes se colocar em lugares desconfortáveis, e fazer eles fazerem sentido, gosto de pensar que somos um misto das nossas vontades, o que o coração quer nem sempre é o que precisamos, saber lidar e conviver com isso, é o mecholaite das nossas dores, as vezes eu mando menssagem para amigos antigos, e as vezes eles mandam pra mim também, nunca é a mesma coisa do passado, então acho que é mais como encontrar algo antigo e agora reformado, do que reabrir uma ferida.
ResponderExcluirBONITO. mas o meu problema é que quando me permito a exposição, sei que antes mesmo de me expor, vou me doer toda depois. sou muito doída, por isso o melhor seria tentar e se não der em nada, se doer, não vale a pena ir atrás mais 😽
ExcluirJusto você está se preservando, mas acho que estamos conversando bastante sobre sentimentos estratégicos pra te questionar.
ExcluirO que voce faz quando se priva de sentir algumas coisas, o que fazemos com o que sobra disso?
fica congestionado dentro de mim acho que pra sempre, como uma bala que se junta nas vísceras e apenas permanece. no caso eu não consigo tirar essa "bala", mas vá lá... e sobre o que eu faço é difícil, vai ver, escrevo. o tempo passa e me acostumo com a ausência, ou com o excesso de quando eu me privo do que quero, do que sinto, e então fica entalado, cheio, ao mesmo tempo que é um rombo gigantesco. meio contraditório, fazer o quê.
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