e o galo carijó

eu literalmente sonhava em ser como aquelas desgraçadas do tumblr com suas mechas rosas, azuis, desbotadas, com aquela carinha de modelo, seus couros cabeludos sebosos tãooo estilosos, roupas coloridas sem nexo algum, glitter, chokers... bahh 

tinha um sonho curtíssimo que era eu com uma roupa azul futurística, um cabelão liso loiro, chapéu fofinho e branco — nada a ver. os meus cachos dourados e curtos não encaixam mais nessa nóia. os meus textos frenéticos não se encaixam nessa minha cobrança que venho tendo. sempre achei que eu nunca seria esse tipo de pessoa que se cobra até na suposta diversão, mas eu sou, e sou bem pior. eu sei que não deveria me importar tanto, só que, quem disse que eu não deveria me importar assim? eu deveria me importar até mais se quer mesmo saber. deveria ser o carisma mais falso, o cabelo frisado e seu babyliss nas pontas, a base nas olheiras, batom, blush: como uma boneca. roupas modestas, linguajar elegante, uma adolescente exemplar com suas notinhas boas, um futuro brilhante. a sua família atípica e, UM TANTINHO ASSIM, disfuncional... :/

eu penso muito em sexo e odeio sexo, eu penso muito em bebês e odeio bebês, eles me adoram, cê precisa ver, até já considerei ser professora de creche. eu, uma magrela, com sua face longíqua gritando e batendo a mão pra dona luiza não se pendurar no brinquedo, pro enzo gabriel não brigar com os coleguinhas, corrigir as tarefas coloridas e fofas e erradas, ganhar um salário de merda e chorar nas cobertas porque preciso ir a escola (um lugar que estou lutando pra sair) todos os dias. parece o desejo de qualquer menina, não é mesmo?

tive que desenhar a profissão dos sonhos no segundo ano do fundamental. desenhei, e escrevi na linhazinha que tinha acima: "ser professora". doentio. ❤️

bebês são tão fáceis de quebrar que prefiro apenas encará-los no mercado enquanto a baba deles escorre da boca até o colarinho da blusa, e então os ajudo a enfrentar julgamento externo ainda tão jovens!!! uppiii!!! contribui para a sociedade, grande realização!

na pandemia, ficava entrando no meu powerpoint com a conta que a escola tinha feito pra mim, e colocando imagens aleatórias, porque o que de fato contava era os textos que eu escrevia em cada slide. "motivos para nanana...", "porque o fulano blá-blá...", às vezes nada, não tinha título. KKKKKKK, acabei de mentir pra caralho agora. jesus, quem eu estou querendo enganar? vamos ignorar essa parte da pandemia.

eu tô com duas presilhas pretas da daiso segurando a minha franja, com dor nas costas, com uma vontade infernal de cortar os pulsos no box do banheiro só pra não ter que enfrentar mais desafio nenhum, calor de 35 graus nenhum, nenhuma pessoa, nenhum pote, colher, comidas nojentas, vontades súbitas e irritantes, pensamentos martelantes, NADAA. nadica. ah, e principalmente: nenhum berro. nenhum ser escafalobético, escandaloso, que seja. 

queria correr e me estrupiar, me sujar de barro, me sentir imunda, me esfregar até sangrar. deixar o vento curar o molhado do meu cabelo pós banho, não precisar de amor nem ódio, não precisar chorar nem rir. vou escalar as árvores que der e sentir dor nos dedos, nos pés. jogar as roupas no canto pra mofar, guardar as cascas de mexerica, destruir um computador, se pendurar na varanda do sétimo andar, ter um vestido rosa de plumas e camadas para estragar em 2 semanas com o tanto que preciso machucar. preciso ralar a tua cara chata numa gilete, preciso beber agua e preciso beijar na boca, e preciso não beijar na boca, mas sim saber que consigo qualquer uma dessas coisas carnais mesmo tendo pra mim que não muda porcaria nenhuma, é nojento. eu quero o seu corpo e suas secreções longe, e eu quero tão perto, tão perto... faz sentido. eu sei que faz. 

e se não fizer, então, bom, acho que está razoável assim. minha orelha direita queima. ouch.


Comentários

  1. Mulher que forte...
    Estou sem palavras...
    Uma imagem brutal que você cria com suas palavras, aqui.
    Não sei nem oq dizer.
    Eu guardo as cascas de mixirica,
    Misericordinha

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