sonho inocente

sonhei que estava sentada e paralisada numa calçada, de frente pra um prédio, onde havia uma janelona em específico em que se conseguia enxergar uma mulher com um vestido florido amarelo, de cabelos ralos e pretos, aparentemente normal, olhando pro céu. então eu, sem pensar duas vezes, começo a acenar lá de baixo, sentindo os músculos ilusórios do meu rosto forçarem um sorriso durante. ela demora alguns segundos até me perceber. quando percebe, acena pra mim de volta, mas logo para. atravessa o meio da cortina azul que estava atrás dela, sai da janelona, vai pra varanda e, sem hesitar, levanta uma das pernas, apoia os braços pra alcançar o impulso e consegue ficar de pé na meia parede. nesse meio tempo percebo que sua aparência oriental e, até então, jovial, tinha se transformado drasticamente em questão de segundos. seu cabelo ralo era agora quase um caso de alopecia; suas pernas e braços estavam inchados, claramente com varizes e hematomas. sua expressão não era mórbida — era transparente, sincera, completa e podre. ela se joga, e a trajetória vai de encontro com o chão; vejo o impacto do teu crânio, só que isso não foi o suficiente pra rachar. antes de se levantar, se deixa levar pelo momento, pela posição em que a gravidade a deixou. deitada, ela me encara com uma dor de quem já não acredita em tal palavra. se levanta — sua aparência está ainda mais bizarra —, e enquanto anda em direção à escada, eu a incentivo dizendo: "vai! você consegue!". ela chega de novo na sacada e o sonho acaba por uma decisão inconsciente minha, já que eu não conseguiria assistir ao sangue saindo do teu coco rachado. acordo com medo de tão inesperado que foi.

Comentários

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    1. eu poderia ficar pensando em um monte de frescurinha pra escrever, mas vou ser sincera: não faço ideia.
      acho que é porque passei tempo demais pensando em suicídio, ou pensando no que aconteceria depois de uma tentativa de suicídio — o que não levou a lugar nenhum — e daí apareceu em sonhos. mas, se fosse pra chutar, seria algo como a beleza efêmera e falsa dos outros; a superficialidade que logo se revela numa coisa sórdida — e então não tem como ignorar, nem desviar o olhar. de todo modo, não acho que isso seja inteiramente ruim. é verdadeiro ao menos, por isso escrevi sobre!

      aliás, "drogle", quero ver o teu blog também — se é que você ainda o tem.

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  2. apaguei😳, mas achei legal o post do sonho, é um bom blog, parabéns

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  3. Hahaha, não, cansei de monólogar e criar escritas enigmáticas, estou procurando outras formas de me expressar.

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    1. nossa, isso é uma pena. você não tem nada aí? também quero ver a arte alheia

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  4. tenho um trechinho, acontece que só escrevo o que quero, não sou um profissional e preciso falar dessa garota senão sufoco. Ela me acusa e o meio de me defender é escrever sobre ela.

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    1. a maior parte desse ano foi eu tentando me distrair escrevendo, mas acabava que no fim a minha escrita se tornava sobre ele. acabei me identificando, então me mostra esse trecho, plisss!!!

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  5. Eu tô brincando, isso é clarisse lispector, a hora da estrela, eu apaguei tudo que tinha, mandei essa passagem pq achei que combinava com a sua escrita.

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    1. ah, li o livro duas vezes e nem reconheci, ou deve ser porque você não colocou o tal trecho entre aspas...

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  6. Kakaka justamente bocó, era só pra te tirar de palhaça, brincadeira, fora de contexto fica bem difícil saber que é dela kakaka

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    1. parace blefe atrás de blefe 😳 será que você chegou a escrever alguma coisa? acho que acredito só porque a sua conta é de 2016. tu é véia? diz aí!

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  7. Eita paranoia, mas tá assim na descrição? Acho que minha conta não é tão antiga n,

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    1. não tem como alterar a data de quando a conta no blogger foi criada, eu acho. de qualquer forma, fui checar e a senhorita privou o perfil 😢 saiba que não tenho nada contra adultas meio desocupadas, viu?

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  8. Oxe, haha eu fui ver tb e acho que é a data de criação do e-mail, sobre o perfil, já que apaguei deixa morrer, Jesus vc me bota demais na parede

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    1. não tenho culpa se as pessoas me parecem sempre suspeitas. aliás, qual seu nome, véia?

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Assim eu fico sem graça, nao brinco mais, adorei o post, escreva mais desse tipo.

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    1. aahh, nãooo!! eu tô com tédio, não acaba com a brincadeira, tava legal

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